Arquivo da categoria: Coluna IQA

Grande em mercado e produção, pequeno em tecnologia

Mario Guitti é superintendente do IQA - Instituto da Qualidade Automotiva
Mario Guitti é superintendente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva

O ano de 2012 mostrou o potencial do Brasil como produtor e consumidor de veiculos. De acordo com as estatísticas, somos o quarto maior mercado mundial, com vendas internas de 3.802.071 unidades e o sexto produtor mundial com fabricação de 3.342.617 unidades (dados da Anfavea, de janeiro 2013).

Em valor absoluto vendemos mais do que produzimos e nesse total vendido existe uma parcela de veículos importados.

A participação dos importados é de quase 21% do total, mas o mais importante é: o que compramos? Trazemos os modelos com mais tecnologia, maior valor agregado enquanto fabricamos aqui os modelos mais despojados?

Isso é uma realidade, mas sabemos que temos um país com pessoas criativas que buscam soluções inovadoras para atender as necessidades peculiares da nossa região. Assim, penso que está na hora de motivar e apoiar a indústria nacional de forma consistente para que ela seja atrativa aos profissionais mais especializados do mercado, que se formam mestres e doutores, e acabam encontrando espaço apenas no meio acadêmico, onde conseguem desenvolver pesquisas e tecnologias.

Por outro lado, a indústria pode também tomar iniciativa de utilizar estes profissionais, mestres e doutores, e destinar recursos financeiros para o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que podem ser aplicadas em produtos e processos do setor automotivo.

O que comento aqui é algo que se faz regularmente em outros países, na Europa, Estados Unidos, Japão, inclusive na Coréia do Sul, que apareceu recentemente no mercado automotivo, hoje invade o mundo com modelos que são sonho de consumo de muitas pessoas, inclusive brasileiros. E olha que eles não chegam nem perto de ter um mercado como o nosso. Na lista da Jato Dynamics, estão na 12ª posição em vendas, com quase 1,5 milhão de unidades comercializadas em 2012.

O governo deu o primeiro passo e lançou o Inovar-Auto, uma oportunidade de se investir em tecnologia no País. Os primeiros efeitos já podem ser sentidos, com o anúncio de instalações fabris no Brasil como fizeram por exemplo a JAC Motors (em Camaçari, na Bahia) e a BMW (em Joinville, em Santa Catarina).

Mas, muito mais do que apenas atrair linhas de montagem, é uma grande oportunidade para incentivar o desenvolvimento de tecnologia nacional, que traga benefícios para o consumidor e também nossa indústria.

Um dos requisitos do Inovar-Auto é a produção de veículos mais eficientes, que consumam menos. Os modelos “top” de linha das principais montadoras que estão carros aqui no Brasil dispõem de tecnologias que permitem atingir os números de eficiência desejados pelo programa Inovar-Auto, mas esses modelos não são produzidos aqui.

É justamente para isso que temos que criar condições para mudar. Para incentivar ainda mais as empresas do setor automotivo, estamos trabalhando num novo projeto para criar um laboratório específico para o setor automotivo, com objetivo de desenvolver tecnologia, em união com a universidade, a indústria e o governo.

Estamos trabalhando a base do que acreditamos ser o mínimo necessário para tornar a indústria nacional competitiva em um universo de alta tecnologia. Nosso universo é grande, temos mercado interno e produtividade. Precisamos, agora, equilibrar um pouco mais esta balança, com o desenvolvimento interno e aplicação de alta tecnologia nos carros aqui fabricados.